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  • Foto do escritorRodrigo Lancia

A Cultura do Desabafo e das Ligações Não Atendidas.



Certo dia recebi uma mensagem no whatsapp que dizia: “Gente, vc sumiu… vamos nos encontrar?”.


Particularmente eu nunca fui muito fã de whatsapp e muito menos das pessoas me dizendo que sumi. Não sumi, sempre estive aqui, com meus 6 aplicativos de conexão direta para falar comigo, mais duas linhas telefonicas e o querido SMS que também funciona.


Enfim, ignorei o conteúdo da mensagem e fui ao encontro desta pessoa que sempre foi muito próxima a mim, mas havia se distanciado nos últimos meses.


Chegando lá, como fazia um tempo que não via este camarada, começamos a conversar e pude perceber pelo tom da conversa que as coisas não estavam muito boas. Eu, no meu papel de amigo, tentei explicar o lado positivo das coisas que estavam acontecendo e sabia que apenas estar lá para ouvir esse desabafo já o ajudaria.


Entre um copo de cerveja e outro, muitos palavrões e risadas saíram. Falamos sobre preocupações e casos específicos de coração partido e falta de esperança no futuro. Nossa conversa foi muito gostosa, afinal, fazia tempo que não o encontrava e bate até aquela saudade de manter aquele contato que existia há alguns meses.


Um abraço apertado no final e a frase “vamos nos falando” saiu de sua boca.


Durante a semana seguinte, já projetando o sábado, resolvi ligar para este amigo (pois prefiro mil vezes gastar com ligação do que mandar um whatsapp) e a ligação não foi retornada.


Passou um dia e não recebi nem um retorno de ligação e nem uma mensagem dizendo “me ligou?” (que também é uma mensagem que me tira do sério).


Como um bravo brasileiro que não desiste nunca, no dia seguinte enviei uma mensagem para este amigo perguntando o que iria fazer, pois queria marcar algo simples como uma volta no shopping, ou até mesmo um suco num bar. Depois de algumas horas passadas do envio da mensagem, recebi uma resposta simples e fria dizendo que não conseguiria neste final de semana pois já tinha marcado um churrasco com alguns amigos.


Ao receber esta mensagem, como de costume, comecei a refletir nas ações e em algumas repetições no dia a dia. Sempre paro para pensar nas coisas e geralmente tento entender o porque do que tem acontecido em minha vida, seja algo bom ou ruim.


Eu percebi que hoje as pessoas tem uma grande necessidade de desabafar, mas nem todo mundo está disposto a ouvir esse desabafo. Então eles procuram uma pessoa neutra, que consiga entender o ponto de vista e seguem adiante. Não sei se é por uma cultura de guardar seus pensamentos por muito tempo e com a facilidade que conseguimos comentar “nossa, adorei” na internet (facebook) que ninguém mais aguenta ouvir a opinião dos outros.


Todos querem colocar sua opinião e se aproximam de quem compartilha dela. Rejeitamos as diferenças e lutamos pelo que acreditamos ser o melhor… mas o melhor PARA MIM.


Hoje, as pessoas são colocadas em prateleiras e escolhemos com quem queremos falar e SE eu quero falar com ela. Como tenho liberdade de fazer o que EU quiser, posso deixar de te atender (pois estou muito ocupado para você) ou até mesmo parar de te responder durante uma conversar no aplicativo e responder 30 minutos depois. E este é o grande motivo de eu detestar o whatsapp.


Nunca pensamos na pessoa que está do outro lado, sempre pensamos em nós mesmos, buscando o nosso bem estar numa espiral de egoísmo e ansiedade que martela em nossa cabeça EU TENHO DIREITO DE FAZER ISSO.


O mundo está cheio de pessoas que querem desabafar, cheio de pessoas que querem colocar sua opinião (quando não impo-la), mas o mundo está carente de pessoas que querem ouvi-las ou que estão disponíveis parar isto.


Nossa agenda telefônica gira e gira, de cima para baixo, para procurar quem vai me acompanhar numa festa a noite ou quem pode ir comprar uma calça comigo no shopping, tudo de acordo com QUEM EU QUERO que esteja do meu lado hoje.


Desta forma, vamos nos relacionando com as pessoas, mas não num sentido de troca, e sim de uso. Usamos, enjoamos e passamos para uma próxima….


Venho de uma base espiritualista e acredito que todas as pessoas tem missões umas com as outras e que quando a missão acaba, elas vão embora, mas isto não pode ser usado como uma muleta para falta de atenção e egoísmo que afastam as pessoas da gente.


O desapego constantemente é confundido com a falta de educação de não responder uma mensagem e não retornar uma ligação.


Se não nos conscientizarmos que todos tem sentimento e todos estão carentes de atenção, não aprendermos o respeito mútuo e que a conversa é uma troca, teremos uma vida cheia de conhecidos, mas morreremos de solidão por dentro.


Hoje, quando tento me aproximar das pessoas e manter um contato, vejo o quanto está difícil e que isso geralmente é confundido com a sensação de que estou precisando de algo.


Desta forma, me dou o direito de fazer o filtro do que quero e que não quero em minha vida, e busco fortalecer a raiz de uma vida profunda e de grande significado, mesmo que isto me tire da “prateleira” de algumas pessoas.


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